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O olhar da moça
By Arquimimo Novaes on Tentando ser prosa

Vi outro dia, enquanto esperava o meu ônibus, uma menina muito bonita. Até aí nada de extraordinário. Existem tantas que passam por todos nós todos os dias afinal. A questão é que ela não parava de me olhar. Não, não era uma paquera, uma azaração, ou sei lá qual nome andam usando por aí para essas situações. Tenho certeza disso porque era já fim de jornada, estava eu, certamente, com ar de cansado e ainda era seguramente uns vinte anos mais velho que ela, estou acima do peso, e o que talvez contasse a meu favor não tinha acontecido. Não trocamos palavras.

Ela, entretanto, continuava me olhando, e já estava me deixando preocupado. Disfarcei, olhei para o entorno para me certificar de que o objeto mirado era realmente eu. E era. Não tinha mais dúvidas. Agora, ela já esboçava um sorriso. Retribuí com outro sorriso, porque ninguém é de ferro. E já pensava: "Isso está me valendo o dia!", que não tinha sido fácil, aliás.

Meu ônibus, que já demorava, apontava naquele momento, e até lamentei por isso. Iria me distanciar daquele olhar insistente que alimentava alguma coisa em mim bem agradável. Quando me aproximei da escada do ônibus, pude notar seu olhar me acompanhando, olhei para ela uma última vez. E ela ritmando a mão ia apontando para uma direção que fez meus olhos encontrarem meu zíper... totalmente aberto.

Que vergonha.

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