Junte bastante água, jogue uma pitada de sal, um pouco - mas bem pouco
mesmo - de muco e gordura. Acrescente emoção a gosto. Esses são os
ingredientes básicos para quem quer lavar a alma. Seja na tristeza ou na
alegria, por estar irado com alguém ou orgulhoso de outrem, nessas situações
e em muitas outras o melhor a fazer é mergulhar o espírito num pranto
sincero. Ir do marejar dos olhos ao transbordar em lágrimas faz com que nos
sintamos mais leves. Algo que a ciência já tem como certo: ao chorarmos,
liberamos substâncias químicas que proporcionam a sensação de alívio quase
imediato. O efeito é desencadeado exclusivamente por cutucadas emocionais e
não por estímulos físicos, como quando o globo ocular se irrita com aquela
cebola cortada.
"As lágrimas provocadas pela emoção removem elementos acumulados nas horas
de estresse. Elas, literalmente, põem tudo para fora", diz o neurocientista
Willian Frey, da Universidade de Minnesotta, nos Estados Unidos, autor de um
estudo que revela como funciona essa ação calmante. Fisgado pelos
sentimentos, o cérebro fabrica certos neurotransmissores. Esses compostos
passam de um neurônio para outro avisando que as glândulas lacrimais
precisam ser contraídas. O choro começa.
.
"Quando entornamos a primeira gotícula, entra em cena a leucina-encefalina" ,
ensina Frey. Como o nome entrega, esse mensageiro é produzido pelo encéfalo,
a nossa massa cinzenta. Ele tem a função específica de nos anestesiar se
sentimos fortes dores e também nos deixa um tanto entorpecidos, na maior
paz. "A leucinaencefalina age como um ópio natural", descreve a psicóloga
Ana Maria Rossi, presidente da extensão brasileira da International Stress
Management Associantion - algo como Assossiação Internacional para o
Gerenciamento do Estresse, numa tradução livre. Outra substância que divide
as atenções é a prolactina, hormônio produzido na glândula pituitária, no
meio do cérebro, quando aumenta a tensão. Com altas taxas de prolactina no
organismo, as emoções ficam à flor da pele. Aí, chorar funciona como uma
válvula de escape que manda o excesso do hormônio embora.
Sim, as lágrimas fazem bem. Mas não dá para chorar em todo canto, a
qualquer instante. O excesso, assim como reprimir o líquido, deixa na cara
que as coisas não estão bem. "Chorar a perda de um parente ou por causa de
um problema financeiro é justificável. Já por coisas pequenas, como perder
um ônibus, não faz sentido", comenta Ana Maria. O choro franco é a emoção em
gotas e, quando elas escorrem por qualquer razão, é sinal de que a pessoa
está descompensando suas emoções. "Pode até ser indício de uma depressão
severa", exemplifica a psicóloga Junia Cicivizzo Ferreira, especialista em
psicologia comportamental pela Universidade Federal de São Paulo. "Pôr o
sentimento para fora e chorar não são a mesma coisa", lembra Junia. Quem
chora pode ser passivo ou nem sequer se dar conta do motivo, enquanto que
demonstrar sentimentos exige que o indivíduo entenda o que se passa consigo.
"Daí, se houver um problema a ser resolvido, ele é capaz de tomar uma
atitude", conta Junia.
Homem não chora?
A afirmação acima é machista e errônea. Homem chora, sim. Mas bem menos do
que as mulheres. "Elas caem no choro até quatro vezes mais", calcula Willian
Frey. "Uma das hipóteses da neurociência para a choradeira feminina é de que
as mulheres a partir dos 16 anos fabricam 60% mais de prolactina do que
eles." Isso porque o hormônio tem outras atribuições, como preparar as mamas
para, um dia, produzir leite. Aliados a essa diferença biológica estão os
fatores culturais. Em muitas sociedades ainda predomina a idéia de que
chorar é coisa de menina.
A verdade é que chorar faz bem e, sem exageros, não tem contra-indicaçã o.
Afinal, se os olhos são mesmo a janela da alma, nada melhor do que lhes dar
um belo enxágüe de vez em quando.
NÃO SE REPRIMA
Engolir a seco a choradeira não é nada saudável
Conter as lágrimas quando elas pedem para escorrer traz problemas de ordem
psicológica. "Armazenar sentimentos negativos e passar por cima das emoções,
deixando-as guardadas, pode gerar um quadro grave de depressão", diz a
psicóloga Junia Cicivizzo Ferreira, especialista em psicologia
comportamental pela Universidade Federal de São Paulo. Segundo ela, tudo
pode começar com uma simples apatia, uma dificuldade para chorar. E, aos
poucos, as emoções contidas se somatizam em doenças. "Pressão alta, úlcera e
gastrite são comuns nesses casos", alerta Ana Maria Rossi.
Chorar de rir pode ser um indício de extrema felicidade ou de
descontrole emocional. O rosto se expande e os músculos apertam as glândulas
lacrimais.
A média de duração do choro é de dois minutos. Mas chega a durar 15 o
pranto compulsivo, aquele em que a pessoa soluça, emite sons e até sente
dificuldade para respirar.
Quando a tristeza é senhora, o rosto fica contraído e o choro é todo
lamurioso. Em momentos de desalento, chorar escoa os sentimentos.
Cerca de 73% dos homens sentem-se melhor depois de chorar. As mulheres
ficam ainda mais satisfeitas, com um percentual de 85%.
Chorar lágrimas de crocodilo é a expressão popular para designar o
pranto falso. É que o réptil lacrimeja para manter os olhos umedecidos - e
derrama ainda mais lágrimas quando abocanha a presa, por causa das
contrações da mandíbula.
O medo pode criar no organismo uma tensão à beira do insuportável. E,
para aliviá-la, uma possibilidade é derramar lágrimas.
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