Uma crónica de: © Joaquim Marques
Mês de Maio. Decorria a Primavera em Portugal!
De maneira anormal, um veemente calor, mais próprio do estio, chegou mais cedo naquele ano. A temperatura ambiental rondava os quarenta graus centígrados. Ao lado de minha casa existe uma pequena área de terreno, onde plantei várias espécies de arbustos que, aleatóriamente foram crescendo, suas copas alargando o que, juntamente com sebes que rodeiam os muros, baixos, constituem um pequeno cercado, onde a frescura é constante em pleno verão, transformando o local num lugar aprazível e convidativo ao lazer.
Por tal motivo passei, desde então, a chamar-lhe de bosquinho.
A folhagem verde das sebes, os arbustos, -- uns de maior, outros de menor porte -- convidavam certa espécie de passarada a construírem lá, seus ninhos, na época da acasalação. O sossego era outra atracção para as avesinhas que construíam no local suas "casinhas", onde depois nasciam e criavam seus filhotes até à altura de poderem voar, sem que alguém lhes fizesse mal.
Eu sabia que, numa das sebes que formam o cercado, um casal de melros tinha construído seu ninho e que, nele, estavam cinco filhotinhos nascidos há pouco tempo e como é óbvio, em sua fase de crescimento, dependendo totalmente dos pais que, eu não avistei em todo o dia, o que me deixou bastante preocupado, pois a temperatura era muito elevada para que pudessem estar sem assistência.
Perante tal quadro, com o auxílio de uma pequena escada, resolvi dar um espreitadela ao ninho para analisar a situação.
Com uma das mãos, afastei algumas folhas verdes que o encobriam.
Naquele preciso momento, senti um baque no coração e tamanha ternura se apossou de mim ao ver cinco biquinhos escancaradamente abertos, como que pedindo socorro que, não resisti em procurar uma solução.
Comecei a pensar como arranjar maneira de ajudá-los!...
Uma ideia luminosa me surgiu então e, de imediato, a pus em prática.
Munido de uma seringa descartável, daquelas que servem para aplicar injecções, depois de cheia de água, a fui deixando cair às gotinhas naqueles biquinhos abertos e sequiosos dos filhotes que, a iam sorvendo gostosamente até que, saciados, fecharam seus bicos, sinal de que estavam satisfeitos.
Ainda, como que num agradecimento final, piscavam seus olhitos, mirando-me.
Desci a escada, deixando-os em paz! Senti-me feliz por ter socorrido aqueles filhotinhos de melros que, não fora a minha intervenção, devido ao calor intenso que fazia, talvez tivessem sucumbido.
Todos os anos, variadas avesinhas, continuam a procurar meu "bosquinho", para lá construírem seus ninhos, o que muito me apraz.
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